Um herói próximo da realidade




Dirigido por Sam Raimi e roteirizado por David Koeepp, o filme Homem-Aranha (2002), foi uma das primeiras adaptações cinematográficas dos quadrinhos da editora americana Marvel Comics. Lembrando que o primeiro filme dessa "onda" de adaptações dos quadrinhos para o cinema foi X-MEN (2001), do diretor Bryan Singer. Ambos personagens criados por Stan Lee e Steve Ditko em meados da década de 60. O personagem tinha um aspecto mais humano, assim como praticamente todas as criações de Lee com seus parceiros de grande talento. Isso pode ter contribuído para que os jovens da época, maior público consumidor do gênero, pudessem se identificar com seus heróis.

Aos fãs de quadrinhos mais antigos poderia ficar aquele receio de ver seu personagem no cinema sendo distanciado do conceito original, assim como aconteceu nos filmes do Capitão América, do Batman e de tantos outros. Porém, "Homem-Aranha, o filme" não decepciona neste ponto. A começar pelas referências, tanto aos quadrinhos como ao personagem. Isso pode ser percebido logo de início quando o estudante tímido e atrapalhado, Peter Parker, interpretado por Tobey Maguire, se apresenta. Como não se identificar com o rapaz que é rejeitado pela maioria, quase perde o ônibus e ainda gosta da garota que namora com o valentão da turma?



Por ser um filme considerado pelo diretor como uma longa introdução do personagem, muitos elementos da história original foram modificados. Como a personagem Mary Jane Watson, interpretada por Kirsten Dunst, que em certos momentos faz referência à primeira paixão de Peter nos quadrinhos, Gwen Stacy, que curiosamente foi morta pelo Duende Verde, o vilão do filme. Por questão do tempo foram feitas referências a outros personagens que não entraram nesta trama. Como por exemplo, o Dr. Curt Connors (que mais tarde torna-se o vilão lagarto), os jornalistas Eddie Brock (outro vilão bem conhecido, o Venom) e Ben Urich. Há até uma pequena "homenagem" a outro super-herói, o Super-homem, que é citado numa conversa entre Peter e sua Tia May, interpretada por Rosemary Haris.

O universo adolescente do filme está presente até mesmo quando Peter transforma-se no combatente do crime conhecido como Homem-Aranha. Isso acontece após a morte do seu tio, Ben Parker, interpretado por Cliff Robertson, que lhe ensinou a valor da responsabilidade. É daí que surge no filme o conhecido bordão dos quadrinhos "Com grandes poderes vem grandes responsabilidades". Questões como poder e responsabilidade, a busca de uma identidade e as escolhas para o futuro aparecem como metáforas aos jovens. Curiosamente, a construção dos fatos no filme é feita da mesma forma que uma aranha tece uma teia. Peter Parker/Homem-Aranha e Norman Osborn/Duende (interpretado por William Dafoe) Verde são "cruzados" através de cortes e planos bem planejados de forma a deixar inevitáveis os confrontos entre Herói e Vilão, respectivamente. Outro detalhe é o recurso usado pelo diretor para acompanhar os movimentos do personagem, permitindo inclusive um “balanço rápido" pelos arranha-céus de Nova York, onde podemos Ter a sensação de estar junto com o personagem.

Há algumas falhas a serem apontadas no filme. No roteiro, como o pouco senso de humor, que é uma característica marcante do personagem, e nas roupas dos personagens. Tanto a máscara do Aranha como a do Duende não se mexem quando falam e, quanto ao vilão, só resta não confundir sua armadura com algum alienígena de filmes de ficção cientifica.

Bom, fica a dica de um filme que, como uma aranha, pode te envolver de diversas maneiras, seja pela boa atuação do elenco ou pelas cenas de ação que são capazes de dar a impressão que em qualquer um pode haver um escalador de paredes. Ou que este esteja tão próximo quanto seu vizinho.